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Quando só plantar árvores não chega

Há alguns meses o Presidente da Turquia, Recep Erdogan, anunciou com pompa e circunstância, quando lançava uma campanha de plantação de milhões de árvores, que estava a criar uma Turquia verde e exuberante. Menos de 3 meses depois, grande parte das pequenas árvores plantas estava morta ou definhava. As árvores foram plantadas na altura errada e não apareceu pluviosidade suficiente para as manter.

Num estudo recente da Nature, investigadores estudaram os efeitos de longo prazo dos esforços de restauração da floresta na Índia, país que tem investido muito dinheiro ao longo dos últimos 50 anos na plantação de árvores. No entanto, não conseguiram encontrar provas que estas atividades tivessem gerado benefícios ambientais ou mesmo benefícios para o modo de vida das populações locais.

Sabemos que precisamos de capturar CO2 da atmosfera, para evitar que a temperatura do planeta atinja valores que mudarão drasticamente a forma como vivemos. Também sabemos que as árvores são responsáveis por 30% da absorção total de CO2, e portanto são fundamentais nesta enorme tarefa de reduzir os fatores que criam. Simultaneamente é uma iniciativa relativamente fácil de implementar, na complexa equação de mitigar os efeitos provocados por uma economia baseada em fortes emissões de carbono. Além disso tem impacto mediático e como tal atrai políticos, empresas e milionários, que desde há décadas desenvolvem regularmente campanhas de plantação de árvores.

Mas, como tudo o que se faz, não chega iniciar e deixar em “roda livre”. Há que acompanhar o desenvolvimento, gerir a continuação e garantir que o resultado é o desejado. Muitas destas campanhas bem intencionadas falham e por vezes têm até o efeito perverso de poder alimentar a desflorestação.

Os especialistas referem que o foco não pode pura e simplesmente ser plantar árvores. Há que pensar no longo prazo e apostar na recuperação dos ecossistemas envolvendo as comunidades locais. Há também que considerar que a recuperação da biodiversidade é o resultado de ecossistemas complexos e monoculturas de árvores dificilmente permitem esses ecossistemas.

Hoje estão em curso, pelo menos três campanhas mundiais, que visam plantar milhões de árvores incluindo a do World Economic Forum – One trillion trees campaing-, que visa plantar 1 bilião de árvores.

Porém se não for corrigida a metodologia, corre-se o risco de ser uma ação inglória, pouco consequente ou até perniciosa. Se isto acontecer será trágico, tanto mais quanto esta é frequentemente considerada a ação com mais impacto no combate às alterações climáticas.

Para que o benefício aconteça há que corrigir os erros das campanhas passadas, ponderando cada ação, ajustando continuamente e, acima de tudo, garantindo o acompanhamento e a gestão ao longo do tempo.

Crédito da foto: Bloomberg

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