Usando modelação matemática, investigadores descobriram que se todos os condutores se comportarem de forma egoísta, procurando resolver apenas o seu problema de chegar mais rápido a um determinado local, e se tivermos um sistema que torna relativamente barato usar um carro, todos acabamos por demorar mais tempo a chegar onde precisamos de ir – quer estejamos a conduzir um carro ou não.
Este é um paradoxo real em muitas cidades que dedicam muito espaço ao automóvel. Curiosamente, nos dias de hoje há cidades onde o peso do automóvel está a decrescer, mas há também muitas outras onde se passa o contrário.
As ruas da cidade são muitas vezes projetadas para tornar as viagens de carro mais rápidas e eficientes. E apesar de haver uma quantidade crescente de infraestruturas cicláveis em todo o mundo e uma satisfação grande entre as pessoas que viajam de bicicleta, ainda é muito comum verem-se ciclovias estreitas e desconectadas, que resultam em congestionamentos induzidos por carros particulares, que também afetam os tempos de viagem de bicicleta.
Recentemente tivemos esta discussão na campanha eleitoral para as autárquicas, em que alguns candidatos sugeriam haver um excesso na aposta em vias cicláveis e uma agenda injustificada anti-automóvel. Independentemente dessas considerações políticas, numa perspetiva factual, para que a circulação e o ambiente possam melhorar, necessitam de mais transportes coletivos, de coordenação entre os transportes que ligam os arredores às grandes cidades e de articulação com os vários tipos de transporte individuais de mobilidade suave, como por exemplo as bicicletas. Também factual é que qualquer das maiores cidades Portuguesas tem um número de quilómetros de ciclovia, por habitante, dos mais baixos da Europa.
As faixas de rodagem mistas – as que são utilizadas tanto por carros particulares como por autocarros públicos, em oposição às faixas de autocarros dedicadas – têm o mesmo efeito: o congestionamento dos automóveis também afeta os utilizadores de autocarros. Sem infraestruturas adequadas, não existem, portanto, incentivos à utilização de transportes públicos ou de opções de transporte ativo, como a bicicleta e a caminhada.
E mesmo quando há uma rede de ciclovias ou faixas de autocarros dedicadas, se estas atravessarem ou partilharem intermitentemente o espaço com o sistema rodoviário geral, isso também atrasa toda a gente, tornando o sistema como um todo menos eficiente.
Da mesma forma, o estacionamento gratuito para veículos particulares também resulta em tempos de viagem mais longos para todos – incluindo utilizadores não automóveis – porque negam os benefícios para os indivíduos, que escolhem não usar o automóvel.
Constata-se assim, que o comportamento egoísta, em associação com infraestruturas inadequadas, resulta naturalmente em mais carros, mais congestionamentos e tempos de viagem mais longos para todos.