cancro molecula

Medicamentos atacam “moléculas inatingíveis” causadoras do cancro

Há décadas que os investigadores do cancro ansiavam por uma forma de atingir um conjunto de proteínas chamadas fatores de transcrição. É conhecido que os tumores usam estas proteínas, para crescerem de forma descontrolada, mas as suas configurações únicas fizeram-nas ganhar ao longo de 30 anos, a reputação de serem “inatingíveis por drogas”.

Um grupo de cientistas da Universidade de Chicago anunciou ter criado uma forma inovadora de construir moléculas sintéticas que podem visar estes fatores de transcrição. A descoberta, publicada a 27 de outubro na Nature Biotechnology, abre a promessa de medicamentos e tratamentos, bem como ferramentas para melhor compreender a biologia do cancro.

“Este trabalho prepara o palco para nos deixar ir diretamente para qualquer fator de transcrição.” – referiu o químico Raymond Moellering, autor sénior do estudo.

À medida que os cientistas foram decifrando o trabalho complicado das células, a importância desta classe de proteínas  tornou-se evidente. Estas proteínas agem como os pilotos do ADN da célula, decidindo que partes do genoma ligar e desligar e quando. Por exemplo, o papel de um conhecido fator de transcrição chamado Myc controla o crescimento celular. Se um tumor consegue sequestrar o Myc, as células cancerígenas crescem fora de controlo.

“Se perguntarmos aos clínicos o que querem para tratar o cancro, a resposta é uma forma de inibir o Myc”, disse Moellering. O problema é que Myc e os outros fatores de transcrição são grandes, compostos não apenas por uma proteína, mas por várias reunidas em conjunto. Esses conjuntos são muito maiores do que outras proteínas e isso tem impossibilitado os cientistas de conseguirem fazer os medicamentos tradicionais funcionarem na maioria dos fatores de transcrição.

Por isso, os cientistas perseguem há muito a construção de um fator de transcrição sintético, que possa ocupar o lugar habitual do Myc no genoma, mas ninguém tinha conseguido fazê-lo.

O laboratório de Moellering adotou uma nova abordagem. Construíram uma molécula sintética que utilizou parte da configuração de Myc, nomeadamente “as garras” que se prendem ao ADN. “Imediatamente, quando executámos os géis, pudemos ver que tínhamos decifrado o código para a configuração certa”, disse Moellering.

As moléculas sintéticas ligam-se muito firmemente impedindo o Myc de se agarrar. Nos testes da placa de Petri, as moléculas bloquearam com sucesso o crescimento de células cancerígenas que são conhecidas por confiar em Myc. Estas moléculas também são compactas o suficiente para entrar e sair da célula, e estáveis o suficiente para ficar por perto por vários dias, antes de serem quebradas pela célula.

Há ainda um longo caminho até que qualquer molécula seja aprovada para uso em humanos, mas os resultados são muito encorajadores em testes em animais, dizem os cientistas.

Myc é apenas um dos fatores de transcrição. A equipa visava ser capaz de personalizar a molécula para direcionar a vários fatores de transcrição. Por isso, o que construíram é um “esqueleto” personalizável; com base nos seus resultados, pode-se ‘reprogramar’ esse esqueleto para atingir uma sequência de ADN diferente e, assim, afetar um fator de transcrição causador de doenças diferentes.

Os fatores de transcrição não são apenas importantes no cancro; estão envolvidos em tudo, desde o envelhecimento à diabetes até doenças autoimunes. “Noutras doenças, talvez se queira ligar um conjunto de genes em vez de os desligar; ou bloquear um e aparecer outro”, disse Moellering.

“Há muitas direções diferentes onde se pode imaginar usando plataformas como esta”, disse Moellering.

Crédito da imagem: Moellering lab/University of Chicago

www.newsuchicago.edu

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