Graham Cooks has studied the chemistry of water droplets for decades, discovering insights into cancer detection, drug discovery and early Earth chemistry. (Purdue University file photo/Andrew Hancock)

A vida deve ter começado na orla costeira

Químicos da Universidade de Purdue, Estados Unidos, descobriram um mecanismo que explica que as reações de formação de peptídeos ocorram na água – algo que tem intrigado os cientistas há décadas.

“Esta é essencialmente a química por trás da origem da vida”, disse Graham Cooks, o Henry Bohn Hass Distinguished Professor of Analytical Chemistry na Purdue’s College of Science. “Esta é a primeira demonstração de que moléculas primordiais, aminoácidos simples, formam peptídeos espontaneamente, os blocos de construção da vida, em gotículas de água pura. Esta é uma descoberta dramática.”

Estas reacções à base de água, que leva às proteínas e, portanto, à vida na Terra, também pode levar ao desenvolvimento mais rápido de medicamentos para tratar as doenças mais debilitantes da humanidade. A descoberta da equipa foi publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

Durante décadas, os cientistas teorizaram que a vida na Terra começou nos oceanos. A química, no entanto, permaneceu um enigma. Aminoácidos brutos – algo que os meteoritos entregavam diariamente à Terra primitiva – podem reagir e se unir para formar peptídeos, os blocos de construção das proteínas e, eventualmente, a vida. Curiosamente, o processo requer a perda de uma molécula de água, o que parece altamente improvável num ambiente humido, seja aquoso ou oceânico. Por isso, para a vida se formar, precisava de água, mas ao mesmo tempo precisava de espaço fora da água.

Cooks, especialista em espectrometria de massa e química da Terra primitiva, e sua equipa descobriram a resposta para o enigma: “Nas margens dos oceanos, onde a gota de água encontra a atmosfera, reações incrivelmente rápidas podem ocorrer, transformando aminoácidos abióticos nos blocos de construção da vida. Lugares onde a espuma do mar voa no ar e as ondas batem na terra, ou onde a água doce borbulha encosta abaixo, eram paisagens férteis para a evolução potencial da vida”.

Os cientistas passaram mais de 10 anos usando espectrómetros de massa para estudar reações químicas em gotículas de água. “As taxas de reações em gotículas são de cem a um milhão de vezes mais rápidas do que os mesmos produtos químicos que reagem em solução a granel”, disse Cooks.

As taxas dessas reações tornam os catalisadores desnecessários, acelerando as reações e, no caso da química terrestre primitiva, tornando possível a evolução da vida. Compreender como esse processo funciona tem sido o objetivo de décadas de pesquisas científicas. O segredo de como a vida surgiu na Terra pode ajudar os cientistas a entender por que isso aconteceu e trazer novos dados para a pesquisa de vida noutros planetas.

Legenda da foto: Graham Cook, professor da Purdue’s College of Science

Crédito foto: arquivo da Universidade de Purdue/Andrew Hancock

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