nobel fisica 2022

Nobel da Física para o estranho mundo do entrelaçamento quântico

A Física Quântica é tão estranha quanto real. É das teorias mais bem estabelecidas e rigorosas em ciência, mas não impede um conjunto de excentricidades difíceis de compreender. Dentro delas, o entrelaçamento das partículas é seguramente um dos mais peculiares.

Duas partículas entrelaçadas, podem ser afastadas a qualquer distância e mantêm uma relação de propriedades como se uma nunca se “esquecessem da outra e soubessem instantaneamente o que a outra faz”.

Foi por causa da Física Quântica que Einstein proferiu a célebre frase “Deus não joga os dados”, querendo com isso dizer que não aceitava que se pudesse prever com toda a precisão, por exemplo, o exato local onde a Lua estava em torno da Terra, mas num átomo, por simples que fosse como o hidrogénio, com apenas um eletrão em torno do núcleo, não podemos ser rigorosos e só se consegue dizer que há uma dada probabilidade deste estar num dado local.

Niels Bohr, um dos físicos mais importantes da Física Quântica, contemporâneo de Einstein retorquia com sentido de humor “Páre de dizer a Deus o que Deus tem de fazer”. Já contemporâneo do nosso século, o recém falecido Stephen Hawking dizia “Deus, não só joga aos dados, como os atira para muito longe onde não os podemos ver”, referindo-se precisamente a este tipo de efeitos do entrelaçamento quântico que acontecem a qualquer distância.

Os três físicos laureados pelo prémio este ano fizeram. Alain Aspect, John F. Clauser e Anton Zeilinger “fizeram diversas experiências com fotões entrelaçados estabelecendo a violação da desigualdades de Bell permitindo grandes avanços na ciência quântica”.

Isto equivale a dizer que durante muitos anos se pensava que esses efeitos à distância entre partículas emparelhadas poderiam dever-se a variáveis escondidas, mas existentes, como se o par de partículas quando inicialmente em contacto tivesse acordado instruções que lhes permitiam saber sempre o resultado do estado da outra partícula, mesmo que muito afastada. Isto seria uma violação da Mecânica Quântica e de algum modo daria razão à frase de Einstein. Mas, as experiências realizadas vieram a mostrar que não há variáveis escondidas. E isso permitiu avançar não só no conhecimento, mas também no desenvolvimento de tecnologia que explora estas propriedades quânticas. 

Hoje, desenvolve-se crescentemente computação quântica tirando partido nomeadamente das propriedades de sobreposição dos qubits; e, neste do emparelhamento das partículas, a investigação cresce em torno da segurança da informação, potencialmente garantindo encriptações impossíveis de quebrar.

Crédito foto: John F. Clauser, with his second quantum entanglement experiment, at the University of California, Berkeley, in 1975.Credit…Steve Gerber/Berkeley Lab, via Associated Press

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