Somos atravessados em cada segundo por biliões de neutrinos. Na verdade, por cada eletrão e protão no Universo, há biliões de neutrinos. Paradoxalmente, apesar de abundantes, são extraordinariamente difíceis de detetar, porque quase não interagem com a matéria, atravessando-a como se não existisse.
Há alguns (poucos) laboratórios com a missão quase exclusiva de estudar neutrinos, que detetam diariamente umas dezenas de neutrinos apesar de serem atravessados por triliões. Esses laboratórios estão normalmente no interior de montanhas a grande profundidade, envolvidos por rochas. São os locais mais protegidos de radiação que existem no planeta por forma a não existirem interferências.
E porque são tão importantes os neutrinos?
Conhecê-los bem permitirá resolver muitos mistérios sobre o Universo já que os neutrinos são ubíquos, começaram a existir milisegundos depois do Big Bang e misturam-se com os neutrinos constantemente gerados como resultado do decaimento dos elementos, no processo de fusão nuclear das estrelas, assim como com os que resultam do colapso de estrelas e explosão nas Super Novas.
A grande novidade esta semana, que pode ser uma das descobertas mais importantes para a compreensão da física das estrelas, foi a deteção de neutrinos oriundos do ciclo CNO (Carbono-Nitrogénio-Oxigénio), um dos dois ciclos que alimentam as reações nucleares das estrelas, que se pensa ser o maioritário no Universo.
No Sol, a maior parte da energia que converte o hidrogénio em hélio resulta de outro ciclo, chamado cadeia de protões, e apenas 1% da energia gerada para a fusão nuclear resulta do ciclo CNO sendo por isso difícil de estudar.
Porém, a nossa estrela tem uma massa relativamente modesta e não é representativa da maior parte das estrelas onde se originam neutrinos. As previsões teóricas (década de 1930) apontam para que o ciclo CNO seja maioritário no Universo e o laboratório Italiano – Italian National Institute for Nuclear Physics (INFN) – localizado no interior dos Apeninos detetou pela primeira vez neutrinos com o traço energético característico do ciclo CNO.
Isto parece confirmar na prática as previsões teóricas relativas ao modelo que temos, do motor energético das estrelas no Universo.